Sigo as frases como quem navega na bolina do tempo
esse assoprar de velas em mastro de navio
com águas mexidas nos leitos entre as margens dos dias.
No teu olhar as estrelas são inventadas no azul dos céus onde Deuses incansáveis sopram as velas do tempo como barcos abandonados em pleno Oceano.
Na ausência de histórias para contar
na presença do papel
virava felino imprevisível e lúcido
tocando a vida das pessoas
com o aparo pingando letras
na pele dos dias a denunciar jardins de silêncios
onde arbustos desordenados escondiam as ultimas flores.
Sitiados nos escombros dos edifícios respiravam os olhares vazios das sombras dos candeeiros de lâmpadas ocas de luz
o frio regava-lhes o corpo despidos de sentidos e os musgos brotavam viçosos
como sorrisos de pássaros de asas soltas no vento
mascados os últimos bagos rastejavam como aladas serpentes das memórias
arrumadas nos armários de portas cambadas pelo peso do tempo
a noite fazia-se branca leitosa como se o mundo não enxergasse os espelhos dependurados
das sujas paredes nas esconsas vielas da vida.
Gastamos as palavras nos dias claros de cansados olhares.
Revolvemos os restos na procura de nossos pedaços de vida.
Projectamos sombras nas paredes vazias dos dias lentos.
E gastos de tanto articular ideias cruzamos a vau os rios da memória.
Sempre, sempre em cheia permanente.
No silêncio de néon
a musica confessa fascinantes tons
a alma dança nos sorrisos abertos ao desejo
cerradas as pestanas viajamos sem limites
e a noite como um espelho reflecte a porta aberta da vida
na alquimia complexa da fusão.
Com a face a moldar sorrisos
nesta cidade de muitos encontros
sobeja-lhe o olhar
soltando lascas de tempo
em apeadeiro certo.