Namorando as palavras com a ponta dos dedos

23
Ago 06
As letras e os cometas são poeira do mesmo saco astral
Se lhes dá o vento vão parar ao quintal das estrelas cadentes
Carentes videntes saltando nos caminhos virados a sul
Vertem feitiços nas malhas dos ancestrais fornos de azedo metal
Gritam batendo a pedra em jeito de oração mais amargo que sumo de limão
No circulo rodam os corpos até ao tombo no chão vítreo dos cristais fundidos no frio dos tempos
E o silêncio se deita na toalha da mesa flutuante das marés vazias de barcos encalhados na escuridão
publicado por Jalves às 23:16

20
Ago 06
Dos beirais rolavam  direitos ao chão na preguiça de quem não tem asas.
As asas não se molham, como poderiam então os pássaros voar nos dias de chuva!
Por isso as asas da imaginação não necessitam de gabardine para sair há rua.
publicado por Jalves às 22:41

19
Ago 06
Os passos sentiam-se cada vez mais perto , eram pela certa de sola grossa pois bem vincado era o som que no ar ia deixando, aquele andar de cadencia certa, sinal de personalidade forte ou intuitos pré determinados. Fumava, pois audível foi o esmagar entre a sola e a calçada do que de um cigarro restava. O vento fustigava quebrando-se de encontra as esquinas da rua já sem gente para testemunhar aquela figura escura como a noite. Gotas de água esmagavam-se de encontre as pedras e escorriam por entre as fendas procurando o fundo do ventre da terra mãe. Molhado o que restava do cigarro desfazia-se em mil pedaços, e virado para trás só o gato prestando atenção ao camião do lixo que avançava devorando nas suas entranhas as sobras de mais um dia.
publicado por Jalves às 00:03

13
Ago 06
Vem de longe o tempo das andorinhas.
Rasavam o chão em seus voos.
Chegava a primavera, de mimosas nas paredes altas e de entre as fragas, o amarelo sussurrava.
Pirilampos na noite escura, ou pequenas lanternas com asas.
As aguas viajavam correntes de mares num vaivém sem fim.
No bater e ruçar constante em suas margens o ressaltar da espuma lembrando rendas da avô.
De margem a margem, o constante bailado das velas branco cinza, despertava no olhar a curiosidade das coisas longínquas .
publicado por Jalves às 08:20

11
Ago 06
Respirava devagar, gostava de subir a rampa que o levava ao cimo do morro, gostava de contemplar lá longe onde a sua vista cansada de tantos anos podia enxergar. Sentava-se na pedra que o aguardava à bastante tempo. A brisa que soprava aliviava-o daquela canícula habitual para a época do ano. Do bolso do colete negro sobre a camisa branca, retirava o tabaco de enrolar, vicio antigo que o acompanhava através dos anos. Adorava expelir o fumo pelas narinas criando assim efeitos breves de fumaça . Apanhara o  habito de fumar em miúdo , começara a trabalhar cedo na idade pois era preciso ajeitar a vida, os tempos eram negros como a fome. De observar os mais velhos o desejo da experiencia era mais forte, precisava de alimentar o ego, e de se fazer homem o mais rápido possível . Cruzar o rio pela madrugada de inverno era obra, mas o corpo molda-se ao tempo das coisas e das necessidades . O frio rasgava os corpos como lamina de barbeiro em semana de féria fresca. Os dedos calejados de tanto as cordas firmarem na subida e descida das velas mais pareciam pedaços de lixa. O salgado da água entranha-se nos corpos gretando a pele até ao avesso de si mesmo.
publicado por Jalves às 00:08

05
Ago 06
Seguia devagar como quem procura o caminho de volta. As mudanças eram visíveis , por isso o passo era curto. O cansaço toldava-lhe os movimentos, sentara-se numa pedra de beira de caminho olhando as águas deslizantes do ribeiro que o vinha acompanhando desde manhã cedo. As águas rodavam de encontra as margens polidas de tanto esperar, por vezes fatias de terra deslizavam água abaixo diluindo-se no turbilhão da corrente.
Porque a estação era a primavera, andorinhas rasavam o espelho de água num constante vaivém de predadores de insectos.
publicado por Jalves às 22:54

O leite é, como sabemos, o primeiro alimento que ingerimos quando nascemos. No seio materno recebem-se os primeiros nutrientes e faz-se a ponte para o mundo dos alimentos exteriores. Por tudo isto, a carga simbólica em torno do leite materno sempre foi muito forte. A expressão ainda hoje utilizada acerca daquilo que foi "bebido no leite materno", aponta para tudo o que é intrínseco (bom e menos bom) em nós e na nossa maneira de ser. Coisas que nos tornam únicos e fizeram parte dos primeiros anos de vida.


Gostaria de ter colocado uma foto da Ritinha mas não consegui .
publicado por Jalves às 00:26

03
Ago 06
Risos ao longe serpenteavam por entre os pinheiros anafados de tanta rama verde.
Elas as crianças evoluíam entre os fulvos tufos que atapetavam a espaços o chão de areia.
O vento esse rebelde componente da natureza remexia nos corpos como tentando adivinhar o que habitava nossos bolsos.
Na pausa para mais umas férias a criançada movia-se por entre as frutas frescas, o esconde esconde, e as pernas de frango cansadas de tanta espera, gozavam com as asas que apesar de voarem eram sempre as ultimas a partirem.
O sol tocava nos nossos  corpos, como unhas de gato ronronando de prazer.
publicado por Jalves às 23:11

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